Qualidade de vida, segurança, felicidade... três pontos cruciais das propagandas de imobiliárias para conseguirem vender seus apartamentos em luxuosos condomínios. Mas será que essa é a única forma de resgatarmos aquela vida que nossos pais e avós tiveram?? Em que vizinhos conviviam bem; freqüentavam um a casa dos outros; andavam pelas ruas com calma entre as crianças que tinham liberdade de brincar na rua?
As ruas vem se tornando cada vez mais impessoais, sendo assim não cuidamos delas como deveríamos. Com a correria do dia-a-dia passamos a colocar toda nossa vida dentro de um apartamento. Não nos envolvemos mais com vizinhos e muito menos com a rua. Porem, como futuros arquitetos, temos que pensar em como fazer para que os laços entre rua, morador e vizinho voltem a existir.
Hertzberger propõe em seu livro Lições de Arquitetura que para que as pessoas se sintam parte do espaço, para que elas interajam com ele é necessário controlar a escala do lugar. O lugar não pode ser algo grande de mais, por que se não as pessoas ficam isoladas e não interagem uma com as outras e nem pode ser muito pequeno para que ela não se sintam intimidadas ou que tenham sua privacidade invadida. Atualmente vivemos com espaços que contrariam essa noção dita por Hertzberger, temos ruas grandes de mais com muitos carros, que sufocam e inibem a relação entre a pessoa-pessoa e pessoa-rua. E por outro lado temos os apartamentos que, cada vez menores, prendem e resguardam tanto a privacidade que as pessoas não se sentem a vontade de ter uma relação com o vizinho da porta ao lado.
Por que não descer dos apartamentos e tomar conta de um pedacinho da rua, cuidar dele e transformá-lo numa extensão de sua casa? Como Jane Jacobs mostra em seu livro Morte e Vida de grandes cidades não existe alguém melhor para cuidar de um espaço em que fazemos parte que nós mesmos. Se voltarmos a ocupar nossas ruas, a caminhar sobre elas estreitando os laços a segurança aumenta, a nossa confiança diante dela aumenta e assim fica muito mais agradável para se viver.
No bairro Funcionários, região centro-sul de Belo Horizonte propusemos uma intervenção em uma vaga de carro, para tentarmos testar essas relações das pessoas com a rua. Apesar de ser um bairro residencial pudemos perceber que são poucas as pessoas que caminham nas ruas durante um sábado de sol. No entanto, com o relato e as reações diante da nossa intervenção dessa poucas pessoas, percebemos que elas realmente sentem faltam desse contato saudável com a rua, que não seja aquele de dentro de um carro.
Nós propusemos um playground para trazermos, pelo menos durante aquele dia as crianças para a rua. Para que elas pudessem brincar livremente, por mais que a vaga fosse delimitada, os brinquedos possibilitavam que elas extravasassem esses limites sem ter que necessariamente ficar ali entre uma cerca como ocorre atualmente nos playgrounds dos ricos condomínios nas grandes cidades.
A interação com esse espaço devia ocorrer da forma mais natural possível para que as pessoas pudessem apropiar temporariamente deles e deixá-los com a sua cara, criando uma relação mais estreita, fazendo com que aquilo fosse dela. Para conseguirmos isso escolhemos brinquedo que pudessem ultrapassar o limite da vaga deixando as pessoas a vontade para brincarem e organizarem o espaço da maneira como bem entendesse.
Cada brinquedo tinha sua especificidade: A gangorra permitia uma movimentação acima do solo e para todos os lados. Os carrinhos podiam ser levados para fora da vaga para andar nas calçadas e na rua. Os puffes, apesar de serem pesados para uma pessoa carregar e sugerirem um local fixo para servir somente de assento, tinha um tampo interativo que funcionava como um painel em que a criança poderia escolher suas pecinhas e montá-las livremente formando paisagens ou até mesmo historinhas.
Evitamos ficar perto da vaga para que a nossa presença não intimidasse as pessoas que passavam por ali, para que as crianças pudessem brincar da maneira como desejassem para se sentirem dona do local, sem ter alguém para lhe ditarem as regras.
Enfim, a intervenção na rua e a leitura dos livros Lições de Arquitetura e Morte e vida das grandes cidades nos fez entender melhor como funciona a dinâmica na cidade. Como as pessoas vêem as ruas e como elas gostariam que essas fossem. Sabemos do grande desafio que temos, de não deixar que as nossas cidades morram com a morte de nossas ruas, de não deixar que as máquinas somente tomem conta das ruas. Com a nossa intervenção tentamos, em escala mínima, resgatar os sentimentos entre as pessoas e as ruas para acreditarmos que ainda existe a possibilidade de melhorarmos nossa qualidade de vida sem muitos esforços.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
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